José Rufino, Violatio
MuBE, Sao Paulo, Brazil, December 10, 2013 — January 5, 2014








photo by Adriano Franco

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The exhibition VIOLATIO by José Rufino was designed for MuBE, Brazilian Sculpture Museum, to identify the diversity and complexity of his artistic production of the last 15 years. VIOLATIO presents a selection of sculptures, objects, drawings and prints, some of which unreleased, taken from Rufino's studio and from private collections. The exhibition aims to illustrate his concerns, his research and his perseverance within reoccurring themes in his production, focusing on personal memory that in turn unfold into broader social, institutional or political contexts.

VIOLATIO encompasses, both in small and large scale, the profane, the invaded, the disobeyed, the jagged.Though the works have been selected as a whole they also stand on their own, in dialogue with each other as well as with the exhibition space. Due to their spatial disposition, the works wrap their tentacles around the singular architecture of the museum. It is up to the public to uncover this violated universe.

The objects Ad extremum, Summa, Percolatio, Acta est fabula, In dubio pro reo and Adjectio are created from second hand furniture, passed down and profane due to the loss of functionality. These objects are testimonial to bureaucratic attitudes, in their turn dominating, controlling and manipulative of human behaviour. In appropriating these objects, José Rufino aims to rescue as well as accentuate this reality creating atypical compositions to represent the emotions of a possible protagonist. By wrapping rope around an office chair, in the work Acta est Fabula, Rufino focuses on the aggression and tension that can be put around an everyday object. The human presence is here unnecessary to announce that „the act is but a tale“, in the eyes of the attentive spectator.

In dubio pro reo stands alone, alluding to a prison cell. The central figure is a single chair from which roots and tree branches emanate, symbolizing the existence of an occult being, despite its surroundings. This work by José Rufino speaks of the injustices of law, where the guilty may frequently go without charge while the innocent may often be punished.

Organic elements such as roots, branches and logs are recurring materials in Rufino's work, also seen in Fabularis. Here, a series of branches are framed and hung on the wall, alluding to celebrity or family photos. The knots and ramifications of the branches reveal, but also conceal, the physiology of the portrayed figures. This obliteration also occurs in the series of hollow contours, Sem Titulo, as if to annul the content of the portraits. Are these anonymous figures trying to defend their aura, their psyche and character through the content's abstraction?

The paper works included in this exhibition, Memorabilia Laceratio, Memorabilia Murmuratio and Incisus Marmori, are enlivened testimonials of the memory and the bodily presence of José Rufino, through his intervention upon personal or official documents that are no longer useful. For the artist, these are examples of the extreme weight of the bureaucracies of the past. In explaining the work Incisus Marmori, Rufino makes mention of his own lived experience: „I am comfortably confined in the captivity of a bucolic past, eternally returning, dragged by waves of lost echoes, by ancient jasmine perfumes and by the wrinkled but gentle touch of the skin of uncles and grandparents. I am besieged in a valley surrounded by rolling landscapes, nestled in vast green fields, fairy tale forests and orchards of memorable pranks. I will never leave my great-captivity-home, but I can walk up to the porch and dwell on the windowsill, without any fear of vertigo“1.

The fragile and private aspect of these drawings are countered by the sculptures Ad Corpus I and Ad Corpus II, made from found blocks of concrete, pigment based paint, myhrr, and concrete wedges. Their existence is intentionally a live testimony: the concrete blocks have been taken from Paraíba where the Ligas Camponesas took place up until the beginning of the military dictatorship. The sculptures are silent witnesses emanating „the sound of a silent scream, a scream that was never heard but still echoes“, according to Rufino. Here they present their relationship within the setting of social conflict. The strength of Ad Corpus I and Ad Corpus II lies in the search and identification of pieces of a violated construction, in its natural habitat, and the striking presence it holds. The strange corporeal mass, with its marks, cracks, and interventions made by José Rufino, confirm the possibility of existence, symbolical and narrative, coming from fragmentation and isolation.

VIOLATIO brings to the public at MUBE an extensive showcase of José Rufino's oeuvre, as was recently shown in individual exhibitions such as Casa França Brasil and Centro Cultural Banco do Brasil, both in Rio de Janeiro; as well as the Andy Warhol Museum in Pittsburgh in the US, and Centro Cultural Banco do Nordeste in Fortaleza. Rufino's major group exhibitions include the 1st Bienal de Arte Contemporânea do Fim do Mundo in Ushuaia, Argentina; the 25th São Paulo Biennial, the 6th Havana Biennial and the 2nd Mercosul Biennial, among others.

Tereza de Arruda, curator
Berlin, October 2013

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A mostra VIOLATIO de José Rufino foi concebida para o MUBE Museu Brasileiro de Escultura, e pontua a diversidade e complexidade de sua produção dos últimos 15 anos.

VIOLATIO apresenta um compêndio de esculturas, objetos, desenhos e gravuras inéditos, outros provenientes do atelier de José Rufino e de acervos privados tratando de forma individual as inquietudes, pesquisas e perseverança do artista diante de temas recorrentes em sua produção artística focada na memória particular, desdobrando-se para contextos amplos sendo estes sociais, institucionais ou políticos. VIOLATIO abrange tanto o micro quanto o macrocosmo profanado, desobedecido, invadido, maculado.

As obras expostas foram selecionadas como um todo, porém são autônomas, exercendo tanto um diálogo entre si, quanto com o local expositivo, devido a sua disposição espacial como a nascer, crescer ou infincar seus tentáculos na arquitetura singular do museu. Ao público, a tarefa de desbravar este universo já violado.

Os objetos Ad extremum, Summa, Percolatio, Acta est fabula, In dubio pro reo e Adjectio são formados pela inclusão de mobiliário gasto, usado e profanado através da função já exercida. Eles são por si testemunhos de atitudes burocráticas, dominadoras, controladoras a manipular e delimitar o comportamento do ser humano. Ao apropriá-los José Rufino resgata e acentua esta realidade ao criar composições atípicas representantes do sentimento dos protagonistas que a vivenciaram. Basta envolver uma cadeira de escritório com cordas pesadas e sufocantes, como é o caso da obra Acta est fabula, para se desvendar o significado da agressão e tensão transpostos ao redor de um objeto do cotidiano. A presença humana aqui, faz-se desnecessária para anunciar que “o ato é uma fábula”, aos olhos do expectador atento.

In dubio pro reo vê-se isolado, alusão a uma cela de prisão cuja figura central é uma cadeira solitária, da qual emanam raízes e galhos de árvores como a simbolizar a existência, vida e crescimento de um ser oculto apesar das circunstâncias ao seu redor. Em sua inexistência física encarna a simbologia do réu aqui resguardado, assim como salvo de sua punição por falta de provas convincentes da acusação. Esta obra de José Rufino delata as injustiças da lei resguardando culpados e muitas vezes punindo inocentes.

Os elementos orgânicos como raízes, galhos e troncos são também elementos recorrentes em sua obra como no trabalho Fabularis. Aqui ocorre o enquadramento preciso de uma série de galhos de árvore individuais em molduras maciças e formais como em um alinhamento de personalidades ou membros de uma família. A fisionomia dos retratados é representada pelos traços, nós, ramificações a revelar ou velar a identidade dos seres representados. Essa obliteração ocorre ainda nos retratos que passam a ser personificados somente através de seus contornos vazados, no conjunto Sem Título, como a ocultar ou anular intencionalmente o conteúdo dos retratados. Seriam protagonistas anônimos a defender sua áurea, psique e caráter através da abstração do conteúdo?

Já as obras sobre papel incluídas nesta mostra Memorabiia Laceratio, Memorabilia Murmuratio e Incisus Marmori são testemunhos vivos da memória e presença de José Rufino através de sua intervenção sobre documentos pessoais ou oficiais que caíram em desuso. Estes rementem ao artista o pêso real da burocracia vigente em tempos remotos revista e demarcada com formas aparentemente orgânicas ou munidas de organicidade por ele concebida. O próprio artista descreve a procedência da obra Incisus Marmori como sendo oriunda de sua vivência como parte de si e de seu universo peculiar: “Vivo confortavelmente confinado no bucólico cativeiro do passado, eternamente voltando, arrastado por ondas de ecos perdidos, por perfumes de velhos jasmins e pelo toque enrugado e delicado da pele de tios e avós. Vivo sitiado em um vale cercado por paisagens onduladas, aninhado em campos muito verdes, matas fabulísticas e pomares de traquinagens memoráveis.Jamais deixarei minha grande-casa-cativeiro, mas posso caminhar pelo alpendre e até me debruçar no peitoril, sem nenhum medo de vertigem”1.

A fragilidade e privacidade destes desenhos é rebatida pelas esculturas Ad Corpus I e Ad Corpus II , feitas de bloco de concreto encontrado, pintura à base de pigmentos e mirra e cunhas também de concreto. Sua existência não é casual e sim um depoimento vivo: elas foram retiradas de locais onde ocorreram as Ligas Camponesas, na Paraíba, até o início da ditadura. São testemunhas silenciosas ao emanar um “som de grito mudo, de grito que não foi ouvido e que ainda ecoa” conforme depoimento do artista. Aqui, elas representam sua relação com aquele palco de conflitos sociais. A força de Ad Corpus I e Ad Corpus II está justamente na identificação e busca desses pedaços de uma construção violada no seu espaço natural e na presença marcante que carrega. A estranha massa corpórea, com suas marcas, rachaduras e intervenções feitas por José Rufino confirmam a possibilidade de existência, simbologia e narrativa a partir da fragmentação e isolamento.

VIOLATIO traz ao público do MUBE – Museu Brasileiro da Escultura uma ampla visão da obra de José Rufino como ocorreu recentemente em mostras individuais do artista a exemplo da Casa França Brasil e do Centro Cultural Banco do Brasil, ambas no Rio de Janeiro; além do The Andy Warhol Museum em Pittsburgh nos Estados Unidos e Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza e Sousa. Entre suas participações em mostras coletivas destaca-se a 1° Bienal de Arte Contemporânea do Fim do Mundo em Ushuaia na Argentina, 25° Bienal de São Paulo, 6° Bienal de Havana e 2° Bienal do Mercosul entre outras.

Tereza de Arruda, curadora
Berlim, outubro 2013

1. RUFINO, José. Incisus Marmori. Revista Tatuí, n° 5, Recife, p. 18 a 21


MuBE – Museu Brasileiro da Escultura [visit website]
Avenida Europa, 218, São Paulo, Brazil
Exhibition Period: December 10, 2013 — January 5, 2014